Naquela primeira noite, todos se recusaram a fazer o que exigem sempre, incondicionalmente, haja chuva ou sol. Dormir comigo na cama. Não viram nada, não houve o que quer que fosse de concreto… Mas os três souberam, sem experimentar qualquer dúvida, que o seu amigo partira naquele dia.
Depois, nos seguintes, começaram a regressar, devagar, ao nosso leito familiar. Mas contornaram com rigor felino, inicialmente, o lugar do édredão onde o seu companheiro sempre passava a noite.
Uma semana depois, outra surpresa. O meu Chiquinho, que nos deixara 24 horas antes do dia de Portugal, adorava absolutamente ser escovado. Assim que via a luva própria para esse efeito miava, falava, exultava, dava voltinhas cá e lá enquanto lha esfregava.
A Amélinha, a “Gááta!!”, acha que aquilo é tudo um jogo, só quer morder e arranhar. O Jeremias rejeita esta operação, a Matildinha foge dela a sete pés.
Que aconteceu então naquele primeiro Sábado em que já éramos só quatro em vez de cinco? Escovei a “Gááta!!” entre muitas dentadinhas e arranhadelas. O Jeremias concedeu-me uns dois minutos para lhe tratar o pêlo.
Olhei para a Matilde, colada à sua casinha, o meu escorredor de loiça almofadado com vários panos de cozinha. Nem vale a pena tentar, pensei. Mas está bem, vá lá.
Comecei a aplicar-lhe aquele suave instrumento manual, inventado por alguém que gosta de animais. Um minuto. Dois. Três. Hum?!
Quatro minutos. Seis. A princezinha cinzenta olha para mim, imóvel e impassível como num transe.
Oito minutos. Dez. Percebo que ronrona, baixinho, e continua a contemplar-me, extática, meiguinha, beatífica.
12 minutos. Desperta lentamente, com movimentos rápidos mas doces. Começa a lamber-se.