Sempre foi uma saga amar, e muitas vezes trouxe maus resultados a quem o faz, mas não menos frequentemente proporcionou felicidade duradoura e digna de nota.
Amar é esquecermo-nos momentaneamente de nós mesmos, dedicando as nossas forças e tudo o que temos no mundo ao outro. Será um erro, possivelmente.
É graças a esse equívoco que existem o mundo e a civilização. O nosso fado é amar alguém, ou algo, ou um conjunto de vidas por quem damos a nossa e de quem depende o nosso bem estar espiritual.
Fomos feitos para estar acompanhados por outros seres vivos, com eles partilhar as pequenas e grandes alegrias da existência, os maiores e menores dramas inerentes a ser. Ou então não somos nada.
Vi alguém sacrificar os anos em que devia descansar e gozar os prazeres que tinha ao alcance, enquanto ainda sentia ânimo para tal, preferindo abdicar desses momentos doces e beatíficos para entegar toda a sua energia a alguém que dos outros dependia para tudo. É isso o amor.
Vejo gentes que põem de parte por algumas horas ou dias a família, a cara-metade, os amigos, tudo o que lhes é mais querido. Para irem, durante esse período, levar um pouco de esperança e carinho a quem nada tem no Universo. Isso é amor.
Vi quem, ao longo da sua existência, desistisse de uma carreira, de alguma prosperidade material, de tranquilidade, para poder sempre ficar ao lado dos filhos, acompanhar o seu crescimento, estar lá para eles a todas as horas. É amor, evidentemente.
O ser humano foi feito para amar e acarinhar, mas esta é uma época da História em que isso não parece tão evidente.
Chegámos a um ponto do nosso percurso em que deixámos para trás a solidariedade, a tolerância, a compreensão, a ciência, a informação e os factos.
Mergulhamos numa idade escura de ódio, ignorância, egoísmo. Olhamos apenas para nós, para os nossos interesses específicos, para o que queremos, para aquilo em que acreditamos, por mais que seja evidente que a nossa verdade nada tem de verdadeiro.
Apenas conta o que pensamos. O outro, o que está lá fora, não existe para nós. É uma época negra e fria que devemos combater com todas as forças. Não apenas com o amor e a tolerância, mas também com a fimeza da verdade e da ciência.