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Há que manter as opções em aberto

Trabalhava num sector que, nessa época, era próspero e prometia. Era um tipo inteligente e competente, elogiado por toda a gente.

Mas tinha sonhos e objectivos que estavam muito longe dali. Foi passar umas férias prolongadas na Índia, e consigo pouco levou. Pagou a viagem e a primeira noite, e depois improvisou.

Ia trabalhando aqui e ali para pagar as despesas. Vivia com cerca de um euro e meio por dia.

Dormia com os outros trabalhadores, em condições abaixo do mínimo, naquele país onde a vida vale muito pouco. Foi uma viagem geográfica e espiritual.

Quando voltou ao mundo alegadamente civilizado, as outras ambições que tinha começaram a falar mais alto. Queria fazer vida, não apenas por um mês, noutro país asiático.

Começou a procurar, e encontrou no mercado uma empresa oriental interessada em vender vinhos no seu país.

Conseguiu conquistar a vaga e lá foi concretizar a sua vontade. Vender vinhos na outra metade do mundo.

A história é contada por um amigo que o conheceu e trabalhou com ele. No mesmo sector, que era próspero e deixou de ser. Quando a instituição começou a ir ao fundo, saiu antes que ficasse rodeado de escombros.

Dedicou-se à agricultura durante um longo período. Dias enormes de tarefas físicas duríssimas, sempre sozinho de manhã à noite, com extremos impensáveis de frio e calor, longe da família e às vezes sem conseguir comunicar com ela.

Tanto sacrifício só valeria a pena se desse para um pouquinho mais, que fosse, do que sobreviver.

Regressou à cidade para pensar no que fazer a seguir. Nos primeiros tempos, tinha dores no corpo por ter abandonado aquela actividade física diária intensíssima.

Se for preciso, consegue viver com 150 euros por mês. A casa está paga, o carro também.

Esteve a fazer as contas. Juntando a água, a luz, o telefone e a comida, essa quantia chega-lhe. Mas também não se importa de voltar a trabalhar e viver longe de Lisboa, por uma compensação que seja aceitável.

Há que manter as opções em aberto.

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