Perdera o hábito de encontrar na caixa do correio cartas, convocatórias e documentos oficiais relacionados com a minha condição de desempregado, mas naquele dia chegou mais uma dessas epístolas carinhosas do Estado socialista a que pagamos impostos para que depois nos proteja.
Tinha que me dirigir, de novo, ao Espaço Jovem dos Olivais, na sequência da continuação da resolução do meu problema de emprego. Era o mesmo sítio, o mesmo dia da semana e a mesma hora da convocatória de havia dois meses, à qual comparecera respeitosamente.
Desta vez, depois de os 20 e tal desempregados de várias idades serem arrebanhados numa sala de espera e conduzidos a umas catacumbas sinistras onde os telefones não têm rede, tudo foi diferente. Quer dizer, mais ou menos.
Ao entrar, percebe-se que as mesas e cadeiras estão dispostas em círculo… Porra, querem ver que vamos ser obrigados a falar uns com os outros?! Será uma sessão terapêutica, tipo Alcoólicos Anónimos?
A formadora, que é a mesma de há dois meses, explica tudo. Esta sessão de esclarecimento sobre as medidas de apoio ao emprego é exactamente a mesma de há dois meses, precisamente igual.
Aos que estiveram nas duas, pede que assinalemos esse facto na ficha de presença. E que tenhamos o cuidado de guardar por bastante tempo o ofício de convocatória carimbado e assinado por ela, porque, às vezes, mesmo quando os desempregados comparecem, o Instituto do Emprego marca falta, o que dá direito a ficar sem subsídio de desemprego.
Desta vez não há ninguém que precise de ajuda para preencher a ficha de presença. E não existe nenhum chato que esteja meia hora a fazer perguntas sobre o sexo dos deuses à formadora do Instituto do Emprego.
O resultado disto é que a nossa “stôra” despacha tudo num terço do tempo – em apenas 20 minutos. Depois deste período tão logicamente e adequadamente empregue, volto a apanhar a linha vermelha, e depois a linha azul, e regresso a casa.