É um ser extremamente doce, meigo, carinhoso e assustadiço.
A vida da minha linda e afectuosa Matilde consiste em saltar para o meu colo em fuga do seu eterno rival, o Chiquinho, do irmão que também aprendeu a persegui-la, o Jeremias, e até da minha Amélinha (aliás, a “Gáata!!, o nome que ela escolheu para si), essa pirralha esguia e negra que me venera, e, claro, também a inferniza desde bem pequenina.
É uma existência difícil, a de Matilde.
Esta princesa cinzenta, sempre que está comigo sem vislumbrar por perto o meu reizinho Chiquinho, presta os seus agradecimentos e homenagens.
Com a passagem do tempo comigo, com a sucessão das duas operações e com a minha insistência em afastar dela os outros três felinos – fofos mas terrivelmente inquietos – sempre que a atormentam, entregou-se-me e passou a olhar-me de uma forma diferente.
Sente-se protegida, defendida e confia absolutamente em mim. Em reconhecimento dessa protecção, esfrega-se em mim, mia-me pedindo atenção e miminhos, deita-se, estende-se e dá-me a barriguinha e o peito para eu acariciar.
Além de lidar com os ciúmes do meu Chiquinho, as loucuras periódicas do Jeremias e da “Gááta!!” e as constantes exigências de festinhas por parte dos quatro, para a Matilde reservo esta atenção específica: Evitar ao máximo que a perturbem.
Na sala, existem uns magníficos sofás que por cá foram ficando, por simpatia da minha ex-mulher, depois do divórcio. Essa divisão é o lugar onde estão instalados o computador e o “escritório”, pelo que se trata de um local de grande ocupação humana, e, claro, felina.
O Jeremias e a “Gááta!!” adoram afiar as unhas no sofá. Chamo-lhes à atenção, ralho com eles e afasto-os destas confortáveis e preciosas peças de mobiliário.
Também a Matildinha tem o mesmo hábito. Mas se a admoestar de forma audível, a pequenina foge da sala e só volta a vir fazer-me companhia horas depois.
Desenvolveu-se, então, nova metodologia. Estalo os dedos uma ou duas vezes, ela ouve-me e olha para mim. Depois basta abanar visivelmente o meu indicador direito para os dois lados, como um pêndulo. Ela percebe e deixa o sofá em paz.
Para mim não é surpresa, para muitos será de certeza. Venham os leigos dizer-me que estes seres carinhosos e doces não são profundamente inteligentes, sensíveis e sábios… Pois claro que são.