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Trânsito bloqueado pela estupidez        

Vinha da quinzenal missão de apoio às Pessoas Sem abrigo, duas da manhã, muito cansado e a pedir cama imediatamente.

Chovia como Deus a dava. A cem metros de casa, vejo que o trânsito está totalmente bloqueado, ao lado da discoteca dos Ferroviários.

A estrada é estreitíssima, mal circularia um pequeno automóvel de cada lado, e houve um esperto que decidiu, simplesmente, ali ficar parado, formando filas de carros e autocarros de ambos os lados.

Apito, buzino, apito e volto a buzinar. Nada. Saio de dentro da viatura, debaixo da chuva diluviana.

Bato à janela. Olha-me um calmeirão com um ar mental e geograficamente perdido. Com muita, muita diplomacia e educação, digo-lhe que está a impedir o caminho dos dois lados e não pode estar ali parado apenas porque isso lhe dá um inexplicável prazer.

Mantém-se o olhar vago e baralhado. Ah, mas eu estou à espera do meu amigo, estou à espera do meu amigo. Informo-o de que existe o Código da Estrada, bem como leis de circulação rodoviária.

Vou repetindo o mesmo muitas vezes, de formas diferentes, sempre civilizada e gentilmente.

Ele diz que sim, que sim, gozando e ignorando-me.

Acabo por desistir. Regresso ao conforto impaciente do meu bólide.

O condutor confundido acaba por se desviar uns centímetros para a direita. Consigo passar, quase lhe raspando a pintura. Ficamos ambos incólumes.

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