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A herdeira

Decidiu ser a principal continuadora do legado do meu Chiquinho, precisamente por saber que essa era uma missão impossível e particularmente importante.

A minha Matildinha assumiu a tarefa de ser a minha confidente silenciosa, adivinhando cada um dos meus pensamentos e servindo-me de ombro protector a todas as horas.

Apareço no seu domínio privilegiado, a cozinha, e esta princezinha não pára de andar à minha volta, esfregando-se em mim e pedindo-me atenção e carinho. Sento-me no chão e salta de imediato para os meus joelhos, feliz com mais um momento de intimidade.

Nos dias mais intensos de estio, abro a porta da pequena divisão ao fundo da casa onde seco as roupas. Muda-se permanentemente para lá. Quando aí vou visitá-la, de cinco em cinco minutos, é como se não me visse havia anos.

À noite, depois de o Jeremias se ter aconchegado nas minhas costas, ronronando, e a Amélinha, a “Gááta!!” se estirar, feliz, sobre as barrigas das minhas pernas, chega ela.

A minha “gordinha” irresistível fica sobre os lençóis, ao meu lado, durante a noite. Quando, horas depois, começo a mexer-me para mudar de posição ou ir à casa de banho, ouço logo os seus miados meigos e gentis, anunciando que está ali.

Deita-se de lado e estica-se, mostrando a felicidade de ser acarinhada. Faz o mesmo, sobre a mesa da cozinha, quando me preparo para ir trabalhar.

Enquanto isso, na casa de banho, o meu Jeremias estende o corpinho, pedindo-me que lhe roce o pé, com meia ou descalço, sobre a barriga, entre as patas, no pescoço: a sua definição de bem estar e alegria.

A “Gááta!!”, durante a noite, decidiu saltar do chão para a janela, e desta para cima do pequeno mas alto armário-biblioteca que tenho no quarto, passando ali as horas seguintes. Lá tenho que me empoleirar em cima da mesa da cabeceira e capturá-la, ao som dos seus ronrons, trazendo-a de volta ao chão.

Esta pequenina, por sua vontade, viveria sempre nos meus braços, encostando-se, mordiscando-me, olhando para mim com a sua expressão de amor infinito.

Ao Jeremias, basta-lhe andar sempre à minha volta, arfando. E quando estou no sofá ou na cama, ficar sobre mim, tranquilo, seguro, com o seu corpo de mini-lince lisboeta rigorosamente colado ao meu!

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