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Chiquinho, um gato gourmet

Na hora da refeição, o Chiquinho disfarça-se de Amélia (a “Gááta!!”) e vice-versa. Ele faz-se mais fininho e ela incha a barriguinha. Como são os dois pretos, tentam a sorte.

Ele quer comer a ração renal dela, e a pequenina pantera deseja consumir a alimentação diabética do seu amigo mais velho e rechonchudo. Pode ser que o dono se distraia.

O Chiquinho era o gato mais saudável deste quarteto, completado pelo Jeremias e a Matilde. Apenas tinha asma, e tomava medicamentos felinos idênticos aos do seu humano, que também tinha alguns problemas respiratórios.

Agora tem diabetes, o fígado já esteve melhor e o estômago também. Faz quatro medicações diferentes por dia. E como a ração não lhe desperta grande interesse, mesmo com a mudança de marca, aposta principalmente no patê, específico para o seu problema de saúde. Está a tornar-se um gato gourmet.

Na hora de engolir os comprimidos, que não lhe agradam nada, salta para cima da bancada da cozinha, para que eu possa, com uma moderada resistência da sua parte, processá-los pela sua delicada garganta abaixo.

Mia muito, pedindo a ração à qual na verdade pouco liga, e ainda se manifesta mais quando finalmente lhe meto o tal patê no prato.

Se saio de casa para ir trabalhar, contempla-me com os seus olhos brilhantes e inteligentes, condenando-me por este abandono de 11 horas. Ouve lá, tu moras aqui, pertences-nos a nós e a este lugar. Então, o que vais fazer lá fora durante tanto tempo?

Às vezes opta por me virar as costas, magoado com a minha iminente partida. Para depois me fazer, junto com os seus três companheiros, uma festa sem fim quando regresso ao fim do dia.

Se como em casa, olha com fascínio para os meus pratos de sopa, leguminosas, cogumelos, arroz ou esparguete. Não são pitéus que possa ingerir, mas não se importava nada.

Felino de origens alentejanas, também o magnífico pão daquela região lhe desperta um interesse convicto. Vem atacar a fatia, sem nada, que tenho na mão de manhã e faz parte do meu pequeno-almoço.

Tem gostos variados e imprevisíveis, este ser negro que, na antiga Pérsia, seria considerado um bom espírito, chegado à terra para acompanhar os humanos, oferecendo-lhes a sua amizade e sabedoria.

E é isso mesmo que ele faz.

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