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Holocausto intelectual

Há um filme de 1980 que se chama Holocausto Canibal. É britânico e foi realizado pelo extremamente prestigiado e ainda mais célebre cineasta italiano Ruggero Deodato.

Por muito que me custe dizê-lo, o que me parece é que nos encaminhamos precisamente para um holocausto canibal e terrorista.

Para um sacrifício, imolação e expiação colectiva, para um homicídio metódico de um grande número – milhões – de pessoas.

Nas décadas de 1990 e 2000 a Humanidade continha em si uma certa dose de sabedoria, cultura, ciência, progresso cívico e optimismo. Depois, não se percebe muito bem o que aconteceu.

Estamos a viver numa era de trevas, obscurantismo, cegueira, ignorância e estupidez como até agora não se vira, ou nunca antes fora exposto.

A informática, os computadores, as tecnologias da informação, a globalização e – AH, claro! – as redes sociais não têm culpa nenhuma disto, mas ajudaram a mostrar e tornar esmagadoramente evidente esse estado de estupidez e ignorância colectiva em que todos vivemos.

Estamos mais preocupados em atacar-nos e agredir-nos uns aos outros do que em saber, realmente, o que se passa fora do nosso cérebro diminuto e incapaz, da nossa casa, da nossa aldeia, do nosso país.

A ciência, a cultura, a informação, os meios de comunicação social credíveis e rigorosos (coisa que não conseguimos encontrar em Portugal) passaram a não ter qualquer valor ou interesse para nós.

A verdade deixou de existir. Eu acho que os ciganos, ou os chineses, ou os negros, ou os brasileiros, ou os espanhóis, ou os alemães, ou os holandeses, ou os judeus, ou os muçulmanos são todos iguais, só porque sim, só porque eu assim considero.

Quero lá saber se a realidade, a ciência, a informação ou a vida me provam exactamente o contrário. É assim porque é assim, porque eu acho que é.

Assim pensam os apoiantes de Trump, Le Pen e André Ventura, Passos Coelho e site Observador incluídos. De certeza que não fazem a mais pequena ideia de quais são as palavras da sigla PSD.

O resultado desta estupidificação humana colectiva e planetária está à vista. Trump é presidente dos Estados Unidos. Os nazis, skinheads, fascistas, kukluxklanistas e racistas saíram do covil e voltaram a estar na moda.

A possibilidade de uma guerra nuclear deixou de ser mera fantasia. O tal holocausto está apenas a um passo.

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