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“E depois fazem-lhe a folha”…

Alto, pele muito morena, cabelo num carrapito, T-shirt azul, calças de ganga, vai-se levantando e sentando, com a cerveja e a mochila ao lado.

Está mais que acelerado e de cinco em cinco minutos desata aos gritos, como se toda a gente à sua volta se preparasse para o matar. Com o tempo e a loucura a crescer, torna-se mais incisivo.

Passam dois camones altos, de ar tímido e pacífico. Vai atrás, grita-lhes e afinfa nas costas de um deles um palmadão que quase poderia fazê-lo cair. O jovem nórdico protesta mas não reage.

Volta para trás e começa a fazer o mesmo com os rapazes de diferentes cores e nacionalidades sentados na rua, como ele, a beber uma cerveja. Grita-lhes, empurra-os, obriga-os a levantarem-se e a sair dali.

Mais tarde ou mais cedo, a coisa iria começar a correr mal.

Acaba por haver um pequeno grupo que começa a protestar, a falar com ele, a rodeá-lo e a dizer-lhe para deixar as pessoas em paz, enquanto se vão dispondo à sua volta.

Não chegam a entrar em vias de facto e fica cada um para seu lado. Passam alguns minutos. E salta à vista que o moreno anti-social não gostou que lhe chamassem à atenção.

Apanha um desses rapazes já mais descontraído, começa a discutir com ele e enfia-lhe uma série de socos. O outro vacila, fica abananado e completamente sem reacção.

Os amigos não vão ajudá-lo, nem as dezenas de pessoas que ali estão a conversar e a beber. Toda a gente se desvia, para não levar com alguma em cima.

O grupinho não se sentiu em vantagem suficiente e deixou o amigo levar as que lhe estavam destinadas. Ao meu lado, o comentário:

Vão esperar que ele se vá embora, que saia daqui, que adormeça por aí algures, e depois fazem-lhe a folha. Isso é limpinho.

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