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Lá embaixo havia o alcatrão

Era uma noite de convívio, animação e partilha, entre amigos que estavam de férias e tinham a vida e a diversão pela frente. Havia, também, um Citroën dois cavalos ocupado por dois companheiros oriundos daquela região alentejana.

Tinha perto de 20 anos e, às tantas, fui desafiado a fazer uma pega de caras ao Citroën. E porque não? Lá fiz a pega, e o carro foi andando, comigo lá em cima.

O problema foi que, a certa altura, achei que já estávamos a ficar muito longe da Zambujeira, onde todos pernoitávamos. Vai daí, tomei a discutível decisão de saltar de cima do bólide…

Lá embaixo, havia o alcatrão, que a minha cabeça e as minhas pernas foram abraçar sem reservas. Foi uma confusão.

Os amigos que tinham ficado para trás já imaginavam uma literal sangria, e pensavam que tinha ido encontrar-me definitivamente com o Criador. Mas ainda não chegara a minha hora.

O condutor do automóvel, e o seu parceiro do lado, levaram-me ao posto médico. 13 pontos na nuca, uma aparente entorse que nunca viria a curar-se verdadeiramente e uma carta para apresentar num hospital.

No dia seguinte, a tentativa de explicar o incompreensível aos meus pais, e a impossibilidade de pôr o pé no chão, duas dificuldades que se mantiveram ao longo das férias.

A luxação no tornozelo deixaria marcas a longo prazo, os pontos na cabeça poderiam quase ser encarados como um fashion stratement, uma declaração de princípios estética.

O rapaz que conduzia o clássico que me carregou, dentro e fora, já não se encontra entre nós. Uma noite, bateu com o carro numa árvore e não sobreviveu.

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