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Galinhas mais ou menos biológicas

Tinha várias galinhas, e conhecia todas pelo nome, pela cor, pelo aspecto… De vez em quando havia uma que desaparecia por umas semanas, por exemplo escondida no meio da lenha, e durante esse período ninguém sabia dela.

Depois, o animalzinho aparecia de um dia para o outro, seguido por um grupo de pintainhos a caminhar disciplinadamente atrás da progenitora. A minha avó comentava: “Olha, lá está a galinha não sei quantas! Finalmente apareceste!”.

Naquela casa, em meados do século passado, o que os animais produziam naturalmente era usado para consumo da família, e os bichos não eram colocados numa linha de produção industrial, obrigados a alimentar os humanos, como acontece hoje.

Nos dias que correm, fala-se frequentemente em alimentação biológica, mas isso motiva algumas dúvidas. Se esses alimentos são criados de uma forma intencional para fornecer um mercado de consumidores que os compram, será que os animais vivem de acordo com as leis da natureza, e não são obrigados a entregar o seu leite e os seus ovos à força, fora dos seus padrões normais quotidianos?

São dúvidas que assaltam, levando à conclusão de que o mais parecido com a agricultura biológica era a de antigamente, em que as famílias retiravam o necessário para a sua subsistência, e, de resto, deixavam os bichos viver sem tantas perturbações.

Essa fauna rural, meia dúzia de anos depois, foi responsável pelo facto de o meu tio ainda hoje continuar por cá. O jovem não se conseguia entender com a ração da tropa, razão pela qual não comia nada, apesar de estar na recruta e em esforço constante.

O alimento que o manteve ao longo desses meses acabou por ser o leite – de uma vacaria que havia nas instalações militares…

Também é verdade que as gentes dessa época, especialmente no campo, tinham uma alimentação muito mais próxima do regime vegan – que adoptei para a vida – do que as pessoas de hoje. Comiam pão, papas, feijão, batatas, legumes, sopa, várias leguminosas, arroz, fruta.

A carne, viam-na pouco mais de uma vez por ano, e o peixe ainda menos. Mesmo assim, conseguiam trabalhar no campo, dar à luz uma porção de filhos e viver durante um período respeitável. A sua dieta era bem mais saudável do que a da maioria dos citadinos de hoje…

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