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A estação das ilusões

Sento-me na esplanada para beber uma água e comer alguma coisa, observando os preços, moderados. Mas este é um lugar contraditório, onde se misturam existências completamente opostas. Enquanto espero que o empregado, do Bangladesh, venha atender-me, há um senhor idoso, sentado no vão da porta do lado e alcoolizado, que grita de irritação.

 

 

O empregado asiático está a tomar conta de 12 mesas com quatro a cinco pessoas cada, completamente sozinho, talvez mesmo por ser asíatico: O colega português não serve ninguém, limita-se a conversar com clientes ou amigos que vão aparecendo no restaurante.

 

 

Santa Apolónia é o sítio onde se cruzam febrilmente viajantes de todo o Mundo, turistas europeus endinheirados, passageiros de cruzeiros, jovens de mochila às costas, muitas notas de euros a circular nas mesas dos cafés, e uma quantidade bastante significativa de homens (e algumas mulheres) alcoólicos, toxicodependentes, pessoas que vivem no limite e dormem na rua, na estação ou à volta dela. Há a miséria humana que leva a estes descaminhos e à anulação da vida, e há a pobreza que salta à vista, mesmo que sem grande interferência das referidas substâncias destrutivas.

 

 

Quando nos sentamos na esplanada para pedir uma água e uma sandes, é complicado, porque todas essas vivências radicais se atacam intensamente. É difícil receber a tal sandes e ver o homem de 50 e muitos anos que olha, cobiçosa e desconsoladamente, para os pedaços de pão que vêm ter connosco.

 

 

O empregado do Bangladesh, obviamente simpático, trabalhador e eficiente, começa a conversar no seu inglês perfeito com a mulher oriunda da Ásia, turista de carteira recheada, e trocam impressões sobre o seu continente natal e sobre Inglaterra, onde viveram os dois. Como preguiçosamente, bebo a minha água, desejo boa estadia, em inglês, ao gentil casal anglo-asiático. Ela, escura e charmosa, ele, branco, aloirado, cordial, responde-me de volta, também em inglês, “boas férias”…

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