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Acordar antes das cinco

Usei a hora de almoço para dormir no terraço do quinto andar, em sossego e com o Sol a bater-me na cara por cima do meu chapéu cinzento.

Quando uma pessoa está muito sonolenta e cansada o sistema entra em ruptura geral. Ficamos apáticos e desprovidos de energia. Só pensamos em parar.

Naquela noite, da nossa equipa de nove, só quatro voluntários podiam ir distribuir comida e uma palavra de conforto às pessoas sem abrigo de Lisboa.

Assim, sobraram menos de quatro horas para fechar os olhos.

A minha doce e querida Matilde, coitadinha, aparentemente perdeu-se a meio da noite. Fechou-se na minha casa de banho e, claro, não conseguia sair.

Tive que ir libertar a minha princesinha. Depois disso, já só tinha uma hora de descanso. A gordinha irresistível veio então juntar-se ao resto do grupo na cama, enroscando-se nas minhas costas.

Por essa altura, a Amélinha, a “Gááta!!”, sempre a ronronar em cima de mim, decidiu pegar-se à traulitada com o meu lindo lince doméstico, o Jeremias. Apesar de tudo ainda voltei a adormecer, minutos antes de ter que acordar.

Os meus três pequenotes já não estavam habituados a este turno que me faz acordar antes das cinco. Hesitaram muito… Mas acabaram por se levantar, alguns deles só depois de devidamente persuadidos, ir para a cozinha e receber os tratamentos matinais, além do patê e da ração.

Enquanto me lavava, vestia e preparava para ir trabalhar, esses três seres carinhosos foram regressando calmamente aos seus lugares naturais, já que ainda eram só seis horas.

A Matildinha foi para o escorredouro de loiça coberto de panos que lhe serve de morada principal. Só vai para o meu quarto quando estou lá.

O Jeremias e a Amélinha passariam as horas seguintes agarradinhos um ao outro sobre o meu édredão, não encontrando qualquer razão para se dedicarem a actividades quotidianas muito agitadas em hora tão matutina.

Despedi-me da Matilde lá no seu lugar cativo. Ao Jeremias disse adeus entre a cozinha e o quarto, para o qual já regressava. Esperava-o a Amélinha, imóvel e serena. Dei-lhe uns beijinhos e umas festinhas, enquanto a sentia vibrar e fazer “rrrr, rrrr, rrrr”.

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