A semana parecia não querer acabar. Fui ter com o Homem dos Livros ao outro lado do rio. Às dez da noite tinha preparado uma salada com infindáveis variedades de vegetais, leguminosas, massa, rebentos de bambu, molhos e pastas vegetarianas, uma garrafa do grande Reguengos Reserva, aperitivos.
Há pessoas que, com a atmosfera da sua casa e meia hora a trocar as novas dos últimos meses, nos curam a alma por completo. Todas as tretas do dia-a-dia se desvanecem perante um olhar sereno, sábio e tranquilo.
Se vamos passar 50 ou 100 anos no Mundo, vamos vivê-los a stressar ansiosamente, mesmo que a vida nem sempre pareça o Mar de Rosas com que todos um dia sonhámos? E os problemas dos outros? São sempre muito, muito maiores.
Sentamo-nos a ver o brutal filme afegão Cães Vadios, seguido de Aguirre, a Ira de Deus, de Werner Herzog. As horas evaporam junto com o vinho e o saboroso tabaco enrolado em mortalhas.
Quatro horas depois acordo, como se tivesse dormido umas 12. Chego ao trabalho relaxado. Começa a troca de disparates com o colega portuense. E os debates religiosos e pedagógicos com o muçulmano francês, sunita “obviamente”.
Os casos rolam mais rápida e lubrificadamente do que nos dias de semana, oleando as minhas médias, que bem precisam. Os utilizadores sentem-se satisfeitos com o que lhes digo e especialmente a maneira como o faço.
Os fones rebentam-me com os ouvidos, a escutar Depeche Mode e Nick Cave, nos intervalos das chamadas.
A descontracção é tal que… É hoje! A última chamada do dia, atendo-a completamente deitado na cadeira, com as patas lânguidamente estendidas em cima de outro assento.
Muito bem, diga-me o seu nome. O e-mail. O telefone. O método de pagamento. Magnífico. Vamos lá então resolver o seu problema!