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Pela dignidade animal

A mulher magra e seca de mais de 60 anos está sentada na sala de espera, com um ar irritado e impaciente.

Sobre as suas pernas uma forma castanha e imóvel de dez centímetros, que não se distingue das calças.

Poucos minutos depois é atendida por alguém especialista na matéria e queixa-se.

Está muito prostrado, muito prostrado! Acha normal?! É normal?!”.

Bom, isso é o que vamos tentar perceber, depois de eu analisar o cachorrinho”.

Ao lado, na recepção, o auxiliar franze o sobrolho e comenta, com ar simpático e interessado: “Oh, mas ele pode ser mesmo assim… Pode ser um cachorro sossegadinho”.

O bebé canino continua sobre as pernas da mulher, completamente parado e indiferente à discussão sobre si próprio que se desenrola à sua volta.

A cliente continua a protestar, a lamentar-se e a sublinhar que o pequeno animal não tem energia, e que isso não é normal.

Acho que vou trocá-lo pelo outro”, vai repetindo, muito incomodada e aborrecida com esta grande contrariedade.

Enquanto, na clínica, lhe pedem para esperar pela sua vez e se preparam para ver o que se passa com a bolinha de pêlos que não se manifesta, telefona para alguém da família.

Acho que vamos trocá-lo. Vamos trocá-lo pelo outro. Mas não digas nada. Faz de conta que não aconteceu nada”.

A mulher mantém o mesmo semblante agastado e enjoado até chegar o momento de ser atendida.

O bichinho triste e sem força anímica deve ser de raça e ter sido comprado, e aquela que iria supostamente ser a sua protectora está, acima de tudo, a interrogar-se sobre se este será “um bom cão”:

Divertido, obediente, respeitador, a companhia/brinquedo adequado para os netos.

Se o indefeso ser de quatro patas está saudável ou não, se este comportamento coloca ou não em risco o seu desenvolvimento e bem estar, isso é a última coisa que lhe passa pela cabeça.

Salta à vista que algumas pessoas são mais que adequadas para dar um lar, felicidade e segurança a um animal… E outras, nem deviam chegar perto deles.

Da mesma forma que a criação e venda de animais de estimação é um mero negócio, uma transacção de “objectos vivos” descartáveis.

Aos vendedores interessa ganhar dinheiro, estando-se os mesmos nas tintas para o bem estar da sua “propriedade comercial”.

Para os compradores trata-se de adquirir um objecto, e se este não corresponder às exigências que idealizaram na sua cabeça, o artigo troca-se por outro.

Segundo a RTP, em 2009 um milhão de animais de estimação eram abandonados analmente. A quantidade de animais que se encontram abandonados neste momento será certamente superior a esse número.

Cada vez que um cão ou gato é vendido, há um cão ou gato, dessas largas centenas de milhares, que nunca terá um lar, uma família, alguém que o ame e o proteja.

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