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Se Deus descesse à Terra

Após um almoço retumbante, antes de um lanche arrasador e durante um filme hollywoodesco visto no ecrã monumental da sala, escuta-se a campainha tocar.

Ouve-se a minha mãe dizer várias vezes “não estou interessada”, “mas eu não estou interessada” e, de novo, “não estou interessada”.

Há uma voz feminina de tom geriátrico que vai respondendo “mas este é um acontecimento muito interessante”, “mas estamos abertos a todos os tipos de pessoas” e “mas podemos conversar sobre todas essas questões”.

O diálogo chega ao fim. Aparece metade de uma folha A4, dobrada em dois. É revelado o seu conteúdo:

O sofrimento vai acabar algum dia? Diria… Sim? Não? Talvez?

Ficamos então a saber. A Bíblia diz que Deus enxugará dos olhos “deles” todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor.

A dar crédito ao pequeno papel colorido, a Bíblia informa ainda que Deus não causa os nossos problemas e entende o sofrimento que experimentamos. E esclarece-nos de que todo o sofrimento vai acabar.

Seguindo esta ordem de ideias, a bíblica fonte explica que Deus odeia o sofrimento, fica indignado quando nos prejudicamos uns aos outros e se preocupa com cada um de nós!

Através do seu Reino, que está para chegar, em breve acabará com o sofrimento de cada pessoa.

A informação é bastante reconfortante, embora mereça o devido escrutínio e o estudo de fontes diversificadas sobre o assunto.

Se olharmos à nossa volta um minuto, parece ser exactamente o contrário que está a acontecer.

Não faltam exemplos, mas há um bastante adequado.

Na Birmânia, no Bangladesh, na Índia e no Paquistão há um povo sem Estado nem território, os Rohingya, que tem sido perseguido e dizimado há décadas pelo governo birmanês.

Apesar de os Rohingya viverem na Birmânia desde tempos imemoriais, o regime não os reconhece como habitantes birmaneses.

Não lhes é concedida cidadania, pelo que não têm boa parte dos direitos básicos e óbvios de qualquer ser humano.

Os outros países da região também não os aceitam: Vivem como párias, como não-pessoas, sendo rejeitados, abusados e maltratados em todas essas nações.

Muitos habitam campos de deslocados, infernos terrestres onde continuam a ser vítimas de doenças, fome, intempéries e abusos, totalmente desprotegidos.

Quando chegam a algum dos países vizinhos, sabem que vão ser mandados de volta para a Birmânia, onde, provavelmente, serão mortos.

Chegam a dizer:

“Preferimos que nos matem já aqui, em vez de regressarmos”. Em vez de regressarem à Birmânia, o país cuja presidente-Nobel da Paz Aung San Suu Kyi não reconhece a sua existência, não pronuncia nunca o nome da sua etnia e diz que não percebe porque fogem.

Os Rohingya são certamente daqueles que muito agradeceriam se Deus chegasse hoje à Terra e resolvesse os seus problemas. Seria fantástico se isso acontecesse.

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