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A Humanidade devia estar em Oslo

Em Itália não é fácil ser homossexual, e menos ainda abortar, ou até comprar a pílula do dia seguinte.

Na Lapa, ser negro e ter assuntos a tratar com a polícia é muito mais fácil do que no Casal da Mira, na Cova da Moura, na Damaia ou na Buraca.

As conclusões nascem enquanto se ouvem várias línguas e sotaques, à porta de um bar do Cais do Sodré.

Mas é altura de ir ver como está o ambiente no Oslo e como anda o preço dos shots. Há uma voz que diz “posso ir com vocês?”. Sai de dentro da boca de um rapaz angolano. Quer desfrutar um pouco mais da companhia da colega portuguesa, que conhece há alguns dias.

Vem, bebe um shot e oferece outros dois, despede-se com amizade e desaparece.

No Oslo, há jovens nórdicos e latinos, com boa aparência e disposição. Há quarentonas e cinquentonas tugas, loiras que fumam, bebem e dançam com liberdade e alegria as músicas dos anos 80.

Há quatro ou cinco homens portugueses entre os 40 e os mais de 60 anos que bebem, dançam com toda a descontracção, felicidade e capacidade de inovação artística do Mundo.

Tudo se mistura e funde, numa explosão de bem estar e harmonia, com a ajuda dos shots de um euro.

Há um quadro luminoso, desenhado em formas muito simples mas belas, que parece representar o porto de Oslo, os navios, os prédios, as casas, as igrejas e as características gerais da cidade norueguesa.

No Jamaica, meia dúzia de metros à frente, há espaço, finalmente, pela primeira vez em muitos e muitos meses. Um milagre de Agosto.

Há um asiático novo e musculado, com um ar muito banal, que, primeiro, paga imperiais e mais imperiais. A seguir, começa a querer dar várias notas de 20 euros à rapariga alta, bonita, vistosa, de cabelo claro e meio arruivado que dança na pista.

Aparentemente, não percebeu muito bem onde estava. Mas tudo se resolve sem problemas depois de meia dúzia de recusas mais afirmativas.

Enquanto isto acontece, há dois países com armamento nuclear que se ameaçam.

Há um Chefe de Estado de uma grande potência mundial que oferece carta branca, direito de existência e legitimidade social e democrática ao racismo, ao nazismo, ao fascismo, ao supremacismo branco, à ideologia assassina de raiva racista irracional e cega do Ku Klux Klan que se aproveita da liberdade e democracia para propagar o ódio e matar.

A Humanidade devia ser igual às noites do Oslo e do Jamaica, e não aos dias da América.

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