A festa

O Manel e a Filomena foram a uma festa. Uma celebração de malta finória e cheia de nove horas, na Margem Sul, junto à praia.

A festa foi agradável e divertida, e depois, claro, acabou – a meio da noite. O casal não levou carro, para poder beber um copo sem preocupações.

No final do evento privado, uma das pessoas presentes veio despedir-se deles… Mas o seu carro era comercial, por isso não podia dar-lhes boleia para lugar nenhum.

Restava então a tarefa de, a meio da noite, algures na Margem Sul e junto às praias, tentar encontrar algum modo de transporte que os levasse de volta em direcção a Lisboa. Mas isso não foi o que os marcou mais.

O que os deixou estupefactos foi um episódio lateral, cheio de significado. Um dos grupos que estivera na festa passou por eles, já depois do final.

Sabiam que eles não eram dali e não tinham transporte. Tinham lugar para eles.

Não foram capazes de parar e perguntar se precisavam de alguma coisa. Ainda melhor: Ao passarem, fizeram-lhes adeus.

O casal acabou por encontrar uma paragem de autocarros no meio do nada, e um táxi que os levou de volta para Lisboa. E agora, semanas depois, contam esta história a toda a gente que conhecem.

Há pouco tempo, fui às festas de aniversário destes dois amigos. Numa delas, um tipo que se calhar nunca me tinha visto perguntou-me se eu precisava de boleia para algum lado.

Era cedo, estávamos no meio de Lisboa, havia autocarros, metro e táxis para todos os gostos. Mas mesmo assim ele quis saber se eu precisava de ajuda para chegar a casa. Uma pequena diferença de atitude…

A frutaria

A ideia era fazer companhia à minha amiga e não trazer nada. Mas aqueles alperces enormes e rosados olhavam para mim, sorrindo. Acabei por comprar uma dúzia.

É uma frutaria aparentemente detida e gerida por portugueses, em Carnaxide, e repleta de apelativos produtos nacionais.

O homem que nos atende parece ser um especialista em nutrição e em exercício físico, a avaliar pelo seu aspecto e pelo discurso. Estamos no início de Julho e, ao que conta, muitos clientes vêm à procura de pêra-rocha.

O nosso interlocutor explica-nos que já não há, porque acabou o tempo dela. Mas existem outras pêras, e muitas outras frutas do país, que estão no auge da sua época e não são menos deliciosas.

O homem de aspecto jovem e credível queixa-de das pessoas que não conseguem ver isso. O que parece impossível, pois qualquer um que entre na loja, mesmo que não queira comprar nada, depois de olhar para os caixotes bem arrumados, cheios e atraentes, será dominado pela vontade de levar diversos sacos destas peças frescas, bonitas e apetitosas.

Fala-nos da melancia, do melão e das cerejas, enquanto olhamos para os alperces, as bananas e os pêssegos. Explica que cada fruta deve ser consumida na sua própria época, que é aquela em que o corpo a pede.

Esta é uma boa altura para comer melancia e melão, mas a cereja já se está a acabar. Garante que, no Verão, não se importa nada de almoçar apenas melancia, absorvendo a água, o açúcar e as vitaminas que contém e de que precisamos agora.

Não é tão fã do melão, que considera ser um alimento um pouco mais pesado. Remete as clementinas para o Inverno, estação em que o corpo está mais tenso e carente da célebre vitamina C.

É um grau de conhecimento alimentar difícil de atingir. Mas o facto é que o sabor das suas frutas é irresistível, quer se trate das bananas ou dos alperces. Não se comparam às do super-mercado, ou das inúmeras pequenas mercearias que encontramos por todo o lado.

O guarda-chuva

Olá. Foi o senhor que pediu três guarda-chuvas, mesmo três? Aqui estão.

Sim, fui eu. Eu uso o pano dos guarda-chuvas para fazer babetes impermeáveis, que vendo a lares da terceira idade.

Tenho um atelier, onde faço esse tipo de trabalhos e arranjos de costura. Vivo aqui na rua porque o dinheiro não dá para tudo.

Já tive 22 funcionárias a trabalhar para mim, mas agora sou só eu. Estou aqui, mas como pode ver estou limpo e não cheiro mal.

Quando vou falar com alguém para vender os meus produtos, vou sempre bem vestido e arranjado. Muitas pessoas que vivem na rua deixam-se desleixar, e eu digo-lhes que aquilo é mau para eles, para a saúde deles.

Deixam-se ficar assim, acomodam-se, desleixam-se. Eu não faço isso. Trabalho e quero melhorar a minha situação. É claro que não vou ganhar grandes fortunas… Não posso aceitar encomendas muito grandes, porque não tenho capacidade de resposta. Mas quero melhorar a minha vida.

Não me vou acomodar. As pessoas não se podem acomodar, têm que trabalhar e fazer alguma coisa por elas.

Agradece e coloca os três guarda-chuvas a um cantinho, junto com a comida e o leite que lhe trazemos.

Não longe dali, há outro homem que vive na rua e pede que as próximas equipas da Comunidade Vida e Paz lhe tragam uma bomba e Ventilã, para a asma.

Diz que, com as mudanças de temperatura e a Primavera, quando tem crises é horrível, é como se estivesse a afogar-se e fosse morrer.

Acrescenta que a comida oferecida por algumas instituições de solidariedade nem sempre chega regularmente, o que constitui outra dificuldade.

Quando está muito calor, o apetite diminui. Mas há outra questão. Os alimentos que lhe trazem são sempre basicamente iguais. Acaba por comer sempre a mesma coisa.

Ter refeições iguais, sempre, todos os dias, é complicado…

O nosso amigo G, e N, a sua cadelinha meiga e amorosa, estão à nossa espera. O rapaz aceita a comida e pede que a Comunidade Vida e Paz tente trazer-lhe uns ténis 44, um número difícil de obter, mas ele só consegue usá-los se forem assim.

Diz-nos que hoje não precisa de ração para a sua amiguinha, e prometemos trazê-la na próxima volta. Explica que o ser simpático de pêlos brancos e escuros está com o período – Anda meio doida por causa disso. Tem que lhe pôr uma trela para ela não fazer disparates.

Desde que descobrimos a sua mascote e tentamos apoiá-los aos dois em conjunto, com a ajuda da associação Animalife, tem sempre um sorriso amável, divertido e descontraído para nós.

Ama a sua irresistível companhia. Brinca com ela e puxa-lhe suavemente pela cabecinha: “Sua tola, sua tola! É uma tola”, repete, amorosamente.

Comida espiritual

Oiço um som agradável e harmonioso, produzido por um ou dois instrumentos simples e inspiradores. Curioso, aproximo-me.

Perguntam-me se quero uma colherzinha para comer. Não, muito obrigado, minha querida. Felzmente não sou uma pessoa sem abrigo, e, por enquanto, tenho todas as minhas refeições plenamente garantidas.

Mas a curiosidade mantém-se. Um grupo de cidadãos solidários, compostos, pelo menos em parte, por alguns seguidores de Hare Krishna, distribui comida quente e colheres pelas pessoas carenciadas que se juntam à volta da estação.

O acto de ajuda a quem dela precisa não se fica apenas pela comida. Acrescenta-se a essa dádiva o conforto espiritual, cultural e musical.

Enquanto alguns dos voluntários oferecem os alimentos carinhosamente confeccionados, uns rapazes de hábito cor de laranja, usado pelos seguidores de HK, tocam num tambor e num instrumento de cordas, para proporcionar o ambiente ideal à ingestão de uma refeição na rua.

A generosidade, a humildade, a simplicidade e o afastamento dos bens materiais caracterizam, pelo mundo fora, quem segue esta filosofia espiritual.

Para Krishna, é mais que óbvio: Estas pessoas que vivem nas ruas, sem nada e procurando um rumo para a sua existência, têm direito a tudo o que os outros encaram como assegurado. O que passa por boa alimentação, mas também um gesto de carinho e um momento de prazer intelectual.

Passo por esta pequena comunidade de moradores da rua diariamente, vendo-os de vez em quando alterados pelo álcool  ou por outras substâncias. Vejo-os com os seus cães, uns adultos e outros ainda cachorrinhos, e preocupo-me com os caninos e os humanos.

Acredito que os bichos de ar meigo e pacífico são tratados com amor e com a dedicação possível. O que duvido é que estes seres fiéis e pacientes tenham as vacinas em dia, a desparasitação feita, a esterilização garantida e muito menos uma visita ao veterinário, pelo menos uma vez por ano…

Se existir a divindade representada por Hare Krishna, espero que ajude a proteger os humanos e os seus amigos de quatro patas.

O arrumador

Aparentemente devido a misteriosas escavações arqueológicas, o Campo das Cebolas transformou-se numa miniatura da Bósnia, ou de Beirute, nos piores tempos das suas respectivas guerras.

Há um gigantesco buraco no chão, como se ali tivesse aterrado um enorme meteorito assassino. Há um infindável estaleiro, para escavar, destruir ou construir alguma coisa.

Há uma série de lojas, restaurantes, cafés, esplanadas e gelatarias que tentam atrair os visitantes, apesar de tudo. Há uma zona onde aos carros é impossível circular, mas as suas centenas de metros iniciais são aproveitadas para albergar um parque de estacionamento informal, onde pululam arrumadores a lutar por ganhar uns trocos.

Deverão existir por ali uma dinâmica e uma auto-organização próprias, com regras consensuais entre os arrumadores… Mas parece que hoje alguém decidiu quebrá-las.

Vejo um pequeno, magro e fraco arrumador, provavelmente influenciado pelo álcool, a perder a cabeça. Um homem de 50 e tal anos, vestido com boas roupas descontraídas e informais, terá estacionado num lugar onde não seria suposto fazê-lo.

Apanho a discussão a meio, com aquele ser delgado, irritado e transtornado a ameaçar o homem, a chamar-lhe nomes e a insultá-lo. Dizendo que não pode deixar o carro ali, que ninguém pode estacionar ali, que ninguém vai fazê-lo.

Grita, insulta, ameaça e os seus colegas mandam-no calar-se e acalmar-se, que aquilo não faz sentido, que só vai arranjar problemas. Não há nada que o demova.

Aquela figura que abana ao vento quer ir ter com o homem sólido e consistente que o irritou, embora os amigos não o deixem. O que é certo é que o condutor insultado decide voltar atrás umas duas vezes para ir dar uns socos no homem magro, alcoolizado e furioso, e é isso mesmo que faz.

O arrumador bem podia ficar calado e quieto, só que o seu estado alterado não o deixa. E este homem, um tipo de classe média, sem preocupações materiais, que sabe quando e onde vai ser a sua próxima refeição, não podia ter seguido o seu caminho e ignorar as boçalidades do outro?

Que necessidade tinha de voltar atrás para ir descarregar uns murros num ser perdido, temporariamente enlouquecido e que não constitui para ele nenhuma ameaça, porque os colegas não o permitem?

Não podia ter ido à procura do seu jantar, sem perder tempo e sem castigar alguém que não vai conseguir fazer-lhe mal nenhum? Ou será que o saco de boxe do Holmes Place não estava disponível nesse dia?

Lisboetas despejados de Lisboa

Nos bairros tradicionais de Lisboa, as pessoas andam chateadas. Na Mouraria, na Madragoa, em Alfama, no Bairro Alto. Dizem que nas casas destes bairros já quase não há portugueses, e que as antigas mercearias locais foram todas substituídas por lojas indianas, paquistanesas, do Bangladesh, asiáticas em geral.

O facto de os lisboetas idosos e pobres estarem a ser escorraçados de Lisboa pelo alojamento local e pela febre louca e ávida de ganhar muito dinheiro muito depressa com o turismo, podem agradecê-lo ao governo de Passos Coelho, Paulo Portas e Assunção Cristas e à sua lei do arrendamento, que permitiu aos senhorios correr com os seus inquilinos, centuplicar-lhes as rendas e vender tudo para construir hotéis ou hostels para turistas.

Podem agradecê-lo também à nossa condição, a Portugalidade. Do Algarve ao Porto, e com o centro nevrálgico de tudo em Lisboa, os políticos, autarcas, empresários e cidadãos portugueses querem ganhar muitos milhões em poucos dias, chupando todo o dinheiro possível aos turistas.

Os portugueses que não precisam dela estão-se nas tintas para a habitação social, como se estão nas tintas para os monumentos, o património cultural, arquitectónico e paisagístico e o ambiente.

Querem que tudo continue a ser deitado abaixo em Lisboa, no Porto e no país, para que possam construir-se ainda mais e mais hotéis, hostels, restaurantes e prédios de alojamento local.

Não lhes causa estranheza nenhuma pensar que Portugal vai deixar de ser dos portugueses e que brevemente os turistas desembarcarão em Lisboa para ver turistas e para visitar hotéis e restaurantes.

Este é o lado da desportugalização que podemos agradecer a nós mesmos.

Quanto ao facto de as lojas indianas terem crescido como cogumelos ao mesmo tempo que as mercearias de bairro se extinguiam, não podemos culpar ninguém. Muito menos os indianos, paquistaneses ou habitantes do Bangladesh, que, no seu país, apenas conheceriam a miséria, a doença e a fome.

Digamos que a extinção das mercearias e a proliferação das lojas indianas é culpa… da realidade.

Mas para a febre de cilindrar o país, a sua cultura e os seus habitantes em nome da obsessão de enriquecer com o turismo, para essa, o que não falta são culpados.

Pela boca morre o doce

Dizem-me, a propósito de me ter tornado vegan, recusando todos os alimentos de origem animal, que só fiz isso porque nunca me passou pela boca uma carne barrosã, uma morcela portuguesa ou uma farinheira típica alentejana.

Nada podia ser menos verdade. A minha resposta é que, em termos alimentares, por esta boca passou tudo, ou quase.

Já não era um consumidor muito ávido de carne, mas adorava peixe, enchidos, todos os queijos do Planeta e todo e qualquer bolo, o que, normalmente, implicaria consumir grandes quantidades de ovos e ou leite.

Afirmam-me que, antes, comia muito e muito bem, e era o convidado preferido de todas as cozinheiras que confeccionavam por prazer. Argumentos que pouco ou nada têm a ver com a escolha entre ser vegan ou consumidor de produtos de origem animal.

Por várias razões. Se havia muitos alimentos não vegan que adorava, é fácil de encontrar um produto que eu venerava. Chocolate.

99 por cento dos chocolates existentes em todas as lojas, incluindo estabelecimentos biológicos, macrobióticos e afins – e incluindo chocolate preto! – têm na sua composição leite ou vestígios de leite. O que fez com que nunca mais consumisse sequer um único quadrado de chocolate.

Se antes, ao almoço, jantar, lanche e pequeno-almoço comia “muito e muito bem”, como me dizem, agora, mais do que nunca, como muito e muito bem.

Pão integral, ou com múltiplos cereais, fruta, sumos de fruta, frutos secos, arroz, esparguete, couscous, batata doce, salada, todos os vegetais conhecidos pela Humanidade, as dez ou 15 leguminosas que podem ser usadas na cozinha, cogumelos frescos de todos os géneros, cereais, barras de cereais, hambúrgueres vegan, sobremesas vegan…

Não deixei de gostar de comer nem de gostar de comer muito e bem. Passei a comer outras coisas, não menos deliciosas que a carne, o peixe ou as guloseimas, doces, bolos e sobremesas que levam ovos, leite ou mel.

Abandonei o alimento que mais venerava à face da Terra, chocolate, substituindo-o por bolos de alfarroba, sorvetes, sobremesas de caju ou de outros frutos secos.

Não deixei os prazeres da alimentação, intensifiquei-os. Mas a questão não é essa.

Embora tenha perdido mais de meia dúzia de quilos em nove meses, o que me move também não é isso. Não foi por razões de dieta, paladar ou saúde que abandonei a carne e os produtos de origem animal.

Foi porque não quero comer animais, seres sensíveis e conscientes, nem produtos que lhes sejam retirados à força e com sofrimento vitalício, que é o que acontece na indústria alimentar. É tão somente isso.

A Padaria Anti-Portuguesa

Entro na Padaria Portuguesa, uma história de marketing bem sucedida assente em produtos demasiado caros, banais, vulgares e que se conseguem por melhor preço e com mais qualidade em qualquer outro sítio.

Numa ardósia de entoações tradicionais lê-se “Creme de abóbora”. Boa. Uma das minhas sopas preferidas. Tiro a senha, os diversos empregados demoram longuíssimos minutos a atender apenas uma pessoa e finalmente chega a minha vez.

Peço uma sopa. Nova demora. Pedem-me que me sente e espere. Uma sopa é uma coisa muito complicada.

Um bom bocado depois, venho saber o que se passa e porque tenho que esperar uma eternidade por uma sopa, como se esta estivesse a ser banhada em ouro. Finalmente aparece a muito aguardada tijela. Caldo Verde.

O quê?!?! Eu não vou comer isso! Eu não como carne! Não era essa a informação que estava afixada.

Exigem-me que diga quem me serviu, como se isso tivesse alguma importância para o caso. A rapariga aparece e dá-se por envolvida. Mas não culpada.

Aparentemente, a culpa foi minha. Eu tinha que ter perguntado se a informação que estava afixada estava errada ou correcta, não me custava nada ter perguntado.

Portanto, esta malta faz asneira, é incompetente e a culpa ainda é minha. E insistem. Eu devia ter perguntado. Afinal de contas, tinha a obrigação de assumir a incompetência deles, e partir do princípio de que as letras escritas a giz branco na ardósia não tinham qualquer dever de respeitar a realidade.

Exijo o dinheiro de volta, saio murmurando imprecações (“Mentecaptos! Imbecis!”) suficientemente alto para que ouçam e mudo de passeio.

Do outro lado da estrada, um café, esse sim barato, bom e tradicional. Têm sopas diferentes à escolha e decido-me pela de alho francês. Deliciosa, verdadeira, saudável e bem mais barata do que a da Padaria Anti-Portuguesa. Aí está uma lição.

Setenta e três quilos e seiscentos

Fui um iô-iô humano durante décadas. Quando tinha 15 anos, dizia que podia comer o que quisesse e nunca engordaria. Meia dúzia de anos depois percebi que isso estava muito longe de ser verdade.

Ao longo da vida, ia fazendo mudanças mais ou menos graduais na alimentação, para conseguir voltar a atingir um peso aceitável.

Há uma década, era um bonequinho disforme e arredondado da Michelin, em cima de um camelo que percorria  o deserto em Marrocos, cheio de pena do bicho e a achar que ia morrer desidratado e para mim já estava tudo acabado.

Comecei a correr, a fazer mini-maratonas, meias maratonas e maratonas, de estrada e de montanha. O peso melhorou, e a saúde também.

Mas havia sempre os descuidos, uma ou duas ou três ou quatro vezes por semana, as guloseimas, doces, sobremesas, bolos, molhos, pratos com comida a mais e por aí fora.

E havia as épocas em que, por alguma razão, começava a vingar-me à mesa e lá descambava tudo.

Em Outubro, tornei-me vegan. Deixei de comer carne, peixe, ovos, leite, queijo, iogurtes, manteiga e mel. Decidi não comer mais cadáveres, nem coisas que fossem feitas a partir de cadáveres ou da exploração, abuso, tortura e massacre de animais comprovadamente e cientificamene sencientes: Sensíveis e conscientes.

Sem que estivesse à espera, isso parece ter gerado um efeito secundário. Pela primeira vez em anos, estou a perder peso, e, aparentemente, massa gorda, de uma forma consequente e consistente.

Devo ter menos uns sete quilos do que tinha há um ano. Nos últimos meses tenho perdido mensalmente um quilo, ou mesmo dois. Peso, hoje, 73 quilos e seiscentos gramas, algo que não acontecia desde os mais antigos dos tempos.

Não foi por isso que me tornei vegan.

Há quem prefira manter-se carnívoro para poder gozar de uma maior liberdade, para poder comer aquilo que lhe apetece.

As pessoas que são vegan não são menos livres do que os carnívoros. Têm, no mínimo, a mesma liberdade que os carnívoros.

Quando decidi deixar de comer carne, peixe, ovos, mel, leite e todos os seus derivados, essa foi uma decisão totalmente e absolutamente livre. Decidi, livremente e conscientemente, que não quero comer animais nem produtos retirados de animais. Esse é, na minha opinião, um acto de extrema e absoluta liberdade.