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Acabem com a ignorância

Vivi durante décadas à porta de um acampamento de ciganos. Fui – e vou – milhares de vezes às feiras, comprar cuecas, meias, calças, frutos secos ou caçarolas aos ciganos.

Cruzei-me e cruzo-me com eles, repetidamente, nas ruas e nas repartições públicas. Ouvi histórias de intimidação e agressividade relacionadas com ciganos, e acredito que aconteceram.

Pessoalmente, nunca tive problemas absolutamente nenhuns com ciganos. Nem com pessoas negras, já agora:

Há quem pense que todos os nossos coabitantes de origem africana são bandidos, que a totalidade dos moradores da Cova da Moura ou da Damaia ou da Buraca são criminosos.

Em contrapartida, fui assaltado por brancos, agredido por brancos, ameaçado por brancos e intimidado por brancos durante anos.

A generalidade dos ciganos tem uma cultura à parte, diferente da nossa, e há dificuldades de integração e aceitação, de parte a parte, que geram alguns conflitos. É verdade.

Os bairros pobres são guetos, onde as pessoas negras são encaradas pelas autoridades policiais como seres sem direitos, apenas por serem negras, e, se alguma delas se lembrar de invocar um direito humano, isso é visto pela polícia como um desacato. Também é verdade, como provam os documentos oficiais e judiciais e as entrevistas e reportagens que têm vindo a público.

Esses bairros marginais estão cheios de pessoas de origem africana – e outras – que trabalham dura e incessantemente, lutando contra tudo e contra todos para sobreviver, ganhar a vida e educar os filhos, para que eles um dia consigam sair dali – uma lotaria onde os dados estão totalmente viciados. E também têm alguns bandidos e traficantes, naturalmente.

Moro no centro de Lisboa e todos os dias vejo traficantes e desordeiros às dezenas. E de certeza que as esquadras de Lisboa, de Cascais ou da Quinta da Marinha também têm o seu tempo ocupado, como todas as outras.

Entendamo-nos. Essa coisa de GENERALIZAR, dizer que todos os ciganos, ou negros, ou espanhóis, ou chineses, ou brancos, ou americanos, ou alemães, ou ingleses, ou franceses, ou romenos, ou indianos são iguais, é pura ignorância.

A GENERALIZAÇÃO é a génese do racismo, da xenofobia, da discriminação, do racismo, do fascismo, do (neo)-nazismo.

Os não-sei-quantos, sejam eles quais forem, não são todos iguais. São todos diferentes, variados e diversificados, tal como nós, não-ciganos ou não-negros, também somos todos diferentes, variados e diversificados. Estamos em dois mil e dezassete, gente.

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