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Fez com que ele partisse mais depressa

Ia a passar na rua e viu um gatinho envenenado. Estava morto, praticamente, mas ainda resistia e respirava. Nada havia já a fazer.

U. sabia que ele ia morrer, mas ainda ia demorar longos minutos a sofrer até sucumbir. Trabalhara na indústria da saúde, tinha experiência com animais, sabia que não havia qualquer esperança.

Eutanasiou-o da forma menos violenta, para que partisse depressa e não agonizasse mais. Esperou pelo seu fim e foi-se embora. Não foi o primeiro gato ou cão que passou pela sua vida.

Teve alguns e salvou outros. Há 66 anos, tinha ele 18, trabalhava perto de um porto onde havia um ancoradouro de barcaças enquadrado por uma parede intransponível.

Ia para a reunião encomendada pela seguradora onde estava empregado, quando viu uma grande multidão que se demorava, imóvel e expectante, a observar algo lá embaixo. Um cão tentava sair do ancoradouro, sem qualquer hipótese de se salvar sozinho.

Ninguém fazia nada. Observavam enquanto se afogava. Quando o bicho se afundou, U. percebeu que tinha que se mexer.

Engendrou um plano para descer por uma corda, pegar no cachorro ao colo e depois exigir que a multidão o auxiliasse, poupando assim a vida do animal.

A sua iniciativa acordou outro moço jovem e mais forte, que, quando o viu a descer e a molhar-se, decidiu aderir ao projecto. Graças a U., toda a multidão despertou do seu torpor e salvou o pequeno de quatro patas.

A meio destas duas histórias, vivia U. no Brasil, onde alimentava dezenas de felinos com a ajuda de uma vizinha que se ofereceu para ajudá-lo nessa tarefa, por saber que tinha muito mais dinheiro que ele…

A gata de U. era tricolor e chamava-se Malvina, por causa da guerra das Malvinas, ou Maldivas, nos anos 1980. Venerava-o e ele adorava-a.

Havia um vizinho que tinha um cão de caça inteligente, atlético e infalível, especializado em eliminar coelhos.

Os outros cães, a Malvina atacava-os; deste, como também ela era profundamente inteligente, fugia como uma bala. Não teria hipóteses contra um especialista em matar coelhos.

O caçador de quatro patas encurralou a Malvina em cima de uma árvore e U. foi falar com o vizinho, com a sua tranquilidade e sensatez proverbial. Que disse ele?

Sabe, se o seu cão encontrar a minha gata na rua e a matar, eu não posso dizer nem fazer nada em relação a isso.

Mas se ele entrar no meu jardim privado, como acaba de fazer, e matar a minha gata, aí temos um problema, entre mim e o senhor, já que está a entrar em propriedade privada, e o senhor é responsável por aquilo que acontecer.

Disse isto com toda a calma e frieza do mundo, de forma a que não houvesse a mínima dúvida possível. O caçador e o seu dono foram-se embora. E não voltaram.

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