Sentado em frente do computador, terminava um texto que queria finalizar naquela manhã, enquanto tentava enviar mais dois currículos antes da hora de almoço. Eram umas 12H57.
Toca a campainha, que já tinha retinido repetidamente na última meia hora, embora a tivesse ignorado. Do apartamento para a escada, em fúria, encontro um rapazinho novo, caracóis extremamente farfalhudos e lábios particularmente grossos. Identifica-se com as credenciais da EDP.
Não percebo nada do que diz mas convido-o a entrar. A Amélia, aliás, a “Gááta!!”, é apanhada de surpresa e corre ao ritmo de Ayrton Senna, para se refugiar no alto do armário da cozinha.
O rapazinho de fala espessa e incompreensível aceita o convite, vai entrando e vislumbrando aqui e ali a “Gááta”, o Jeremias e a Matilde. “Ah, tem muitos gatos, é?”. “Tenho quatro. Um, não sei onde está”.
Passara um dia (ou dois) sobre o regresso a casa da Matilde, depois da operação. A minha princesa cinzenta de vestido cor-de-rosa salta lesta e sociavelmente para cima da secretária enquanto mostro as facturas da luz ao moço e tento em vão entendê-lo.
Dirijo-me à minha querida convalescente: “Muito bem, muito bem”. O rapazinho simpático e enigmático comenta: “Pois, é um salto grande”. Não lhe ocupo tempo precioso a explicar que a pequenota ainda estava debilitada, e que, por isso, sim, era um grande salto.
Parece que devia ter direito a um desconto qualquer, que não me estão a fazer, na electricidade, mas fico sem a menor ideia de que redução de preço é essa.
Peço desculpa ao jovem por não ter sido mais amável no início, depois de vários toques de campainha misteriosos e inconsequentes, quando ele tentava que alguém o atendesse.
Ao longo de toda a enriquecedora visita, o Jeremias não se move de cima da box da NOS, onde quase dorme e absorve o calor. Quanto ao quarto gato, desaparecido durante estes 15 minutos, o Chiquinho, descubro mais tarde que nunca chegara a sair de cima da cadeira, debaixo da mesa, onde ouvia e observava tudo em modo misto de espionagem, lazer e descanso.