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“Vai repetir-se”

Os soldados turcos aproximavam-se a pouco e pouco. Todos os dias avançavam uns passos, sem pressas, percebendo pelos raros tiros dos cristãos que as suas munições se estavam a findar. Sabiam que além de algum pedaço de pão já nada tinham para comer. Haviam-nos cercado por completo, não deixando passar homens nem animais”.

Largas centenas de soldados turcos, bem alimentados e armados, preparavam-se para massacrar menos de dez habitantes de Creta que lutavam contra o domínio turco na ilha, no final do século XIX, e pouco depois disso mataram-nos sem dificuldades.

Ao longo desse século, muitas foram as lutas e rivalidades entre os turcos, muçulmanos, e os cretenses, cristãos, sem que estes nunca aceitassem definitivamente o poder da Turquia. Um pouco dessa história é descrito em Liberdade ou Morte, obra irresistível de Nikos Kazantzakis que revela a vida da população da ilha.

Turcos e cretenses que ora estão em guerra ora em paz, mas sempre influenciados pelo ódio de morte entre os dois povos. Há um cristão casado que se apaixona por uma turca, o que o leva a odiar-se a si próprio.

Quando os tambores da guerra começam a rufar intensamente, os turcos raptam a mulher, porque ia casar com um outro cristão e converter-se. Por ela, o capitão que não queria amá-la abandona um convento cristão à sua sorte perante as tropas turcas, que o incendeiam, e nunca se perdoará por isso.

Comandará o último grupo, de menos de uma dezena, que lutará até ao fim para não se submeter aos turcos: Liberdade ou Morte.

Nos últimos 20 anos, os mais optimistas poderiam acreditar que não voltaria a haver grandes guerras no mundo ocidental…

No outro dia, em conversa com um amigo simpático, amável e inteligente que acabara de conhecer, este contou-me uma coisa. Tinha visto um bom documentário sobre Hitler, e achava extremamente interessante a forma como o ditador tinha chegado ao poder… Eleito.

Na opinião dele, as pessoas hoje em dia não estão verdadeiramente a par, nem se interessam muito, pelo que aconteceu na História da Europa nos últimos dois séculos. E isso é um grande problema, porque, mais tarde ou mais cedo, “a História vai repetir-se”.

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