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Bem vindos a 1939

Às oito da manhã o novo Presidente dos Estados Unidos faz um discurso que dura 15 minutos… Povoado por agradecimentos aos amigos, companheiros e familares que o haveriam de levar à vitória.

É difícil chamar-lhe verdadeiramente um discurso. Sobrecarregado de agradecimentos, contém, como habitualmente, o contrário do que dizia no dia anterior.

Trump parece uma autêntica Miss Universo, inverosímil, surreal, onírico. Fala da paz e do amor no Mundo e entre todos os países, da reconciliação com aquela que era, no dia anterior, a “Hillary Criminosa”, e que nessa altura tinha, segundo ele, que ser presa.

Anuncia investimento público e emprego, e a duplicação do crescimento económico (?!). É, realmente, um “discurso” digno de um reality show. A América de Obama foi um país razoavelmente próspero, rico, progressista e melhor. A nível de direitos e preocupações sociais, incomparavelmente melhor. Com muito mais crescimento económico, comprovado, e muito menos desemprego, igualmente provado, e numa época difícil para o mundo.

Além de tudo o que disse, prometeu ou fez contra as mulheres, os imigrantes, os muçulmanos, os deficientes e todos os tipos de minorias, Trump é o candidato que a extrema direita e o Ku Klux Klan, organização racista, extremista e assassina, veneram.

A primeira a dar-lhe os parabéns e elogiar a sua vitória foi Marine Le Pen. A seguir, veio a Aurora Dourada, a extrema direita grega. É uma vitória retumbante (na presidência, no Senado e na Câmara dos Representantes, gerando um poder imenso e enorme). Um triunfo esmagador da intolerância, do preconceito, do racismo e da xenofobia.

Vencem de forma arrasadora a raiva anti-sistema e anti-políticos, a alienação, o ódio, o desrespeito, a desconsideração, a agressividade. Com um papel não determinante, mas importante, da ignorância. E do medo irracional (nem se percebe bem de quê). Bem como do ódio.

Medo, ódio e (alguma) ignorância, junto com um sentimento de desprezo pelos outros, de irresponsabilidade e de que não há nada a perder. Aí está um composto sólido e poderoso, quase palpável. Que está a tomar conta da humanidade e a espalhar-se por todo o Ocidente, a começar pela Europa. Bem vindos a 1939.

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