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6 500 quilómetros a pé

Sete homens e uma rapariga percorrem a pé a Sibéria. Atravessam o lago Baikal, a algumas centenas de quilómetros de Krasnoyarsk. Caminham pelos montes Kentei e aproximam-se da Mongólia, durante a Segunda Guerra Mundial.

São prisioneiros evadidos de um campo de trabalho soviético na Sibéria. A jovem é uma refugiada da guerra que atinge o mundo e a União Soviética, incluindo a sua Ucrânia natal.

Atravessam juntos o terrível e assassino deserto de Gobi… Estamos na década de 1940, e este grupo não tem praticamente nada a não ser as mãos e o engenho, que lhes permitem ir arranjando comida de vez em quando. Sempre a pé, passam pelo Tibete e pelo Butão e percorrem os Himalaias.

Aproximam-se do Paquistão Oriental e os seus pés levam-nos até à Índia Britânica, o seu destino final, o único onde os ex-prisioneiros do campo soviético estariam a salvo dos russos.

Durante um ano, as suas pernas transportam-nos ao longo de mais de 6 500 quilómetros. No final desta viagem infernal de libertação, apenas quatro sobrevivem. Incluindo Slavomir Rawicz, autor do livro autobiográfico Rumo à Liberdade, que inspirou o filme de Peter Weir com o mesmo nome, em que entram Colin Farrell, Ed Harris e Saoirse Ronan, em 2010.

Slavomir, polaco, foi enviado para o campo de trabalhos forçados apenas por causa da sua nacionalidade. Os soviéticos inventaram acusações de espionagem contra ele, interrogaram-no e torturaram-no durante várias semanas, drogaram-no, tentaram arrancar-lhe uma confissão forjada e deportaram-no.

Depois da sua viagem a pé de um ano e 6 500 quilómetros, que arruinou a saúde dos quatro sobreviventes e lhes retirou uns bons anos de vida, Slavomir, que já tinha feito a “sua” guerra, decide regressar à Polónia, voltar ao seu exército e continuar a combater a Alemanha nazi…

Este é o tipo de obstinação humana que sublinha que somos capazes do melhor e do pior. E este tipo de história, em ambiente de guerra e ditaduras, é, também, actualíssimo hoje.

Em Inglaterra temos um governo xenófobo e de tendências fascizantes, que quer saber quantos estrangeiros há no país. Na Rússia e Turquia, ditadores eleitos que esmagaram a oposição para continuarem a fazer-se eleger.

Na China, uma ditadura, comunista de nome e selvaticamente capitalista na prática. Nos Estados Unidos, que deixaram de contar verdadeiramente para a política internacional, o vírus Trumpeteiro infectou gente suficiente para ter uma candidatura presidencial. Na França e Alemanha a extrema direita aumenta a influência e aproxima-se mais do Poder.

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