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Os Cinco Exércitos

Estou com muitas dores. Caí, magoei-me. Consigo andar mas dói-me tudo. Tenho dificuldades em respirar”. Apesar disso, H, o sábio e filósofo que vive há anos do nada e sem nada aceitar, não quer assistência médica. “Já vieram, já me viram, não quero mais nada”.

Continua feliz, mas precocupado com o mundo. “Porque andam por aí a fazer explodir bombas por todo o lado? Porquê? Para quê? Fanáticos. Isso não tem nada a ver com religião”.

Este profeta privado de meio metro quadrado de calçada no centro da prosperidade e do luxo da cidade diz que Cristo não anda no Mundo. Nem Cristo, nem Buda, nem Maomé, nem Hare Krishna.

No meio de tudo isso lembra-se de Adolfo Suárez. Diz que nasceram no mesmo dia, do mesmo mês, do mesmo ano. 25 de Setembro de 1932. Que o político era de direita, e ele é de esquerda. Que o antigo primeiro-ministro espanhol perdeu parte da família, para o cancro, morreu há dois anos e ele ainda está vivo, embora viva na rua há décadas, cego, aos 84 anos, sem um único pertence e nada levando do Mundo.

É de esquerda e cristão, mas não aprova nada que tenha a ver com Igrejas e instituições – excepto o Papa Francisco. Da sociedade, passou a aceitar uma sandes de vez em quando. Percebeu que, se não o fizesse, deixaria de estar por cá, e então vai ficando. Com uma presença suave e tranquila, que deixa marcas naqueles com quem vai conversando.

Antes de perder a visão, leu um artigo do El País sobre a quantidade de países que existem no Planeta. Mais do que ele, na sua vasta sabedoria e cultura, estava à espera. Alguns com nomes que nunca ouvira.

Enumera correctamente a lista de todas as nações mundiais com armas nucleares. Tem uma proposta complexa e interessante para resolver isto tudo. Devia haver um grande exército, unificado e sólido, por continente. Nele participariam soldados de todos os países desse continente.

Dentro de cada um dos continentes, os países não se atacariam. O seu exército continental, composto por militares de todos os países, não o permitiria. Entre continentes também não haveria ataques. Ninguém seria louco ao ponto de promover a destruição mútua de todos.

As armas nucleares, deixar-se-iam apodrecer. As armas convencionais manter-se-iam, credíveis e em bom estado, para assegurar a paz entre os continentes, através da existência dos cinco exércitos. “Isso podia acontecer. Mas não vai acontecer. Aos países não lhes interessa isso”.

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