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Dostoievsky nunca poderia chamar-se Tolstoi

Desde a mocidade estava convencido de que se é próprio dos pássaros alimentarem-se de vermes, terem o corpo coberto de penas e voarem no espaço, dele era próprio comer iguarias requintadas, preparadas pelos melhores cozinheiros, vestir-se da maneira mais elegante e mais confortável, montar os cavalos mais rápidos e mais seguros, e que, necessariamente, isto devia estar à sua disposição”, escreveu Tolstoi, em 1899, referindo-se a um ministro do tempo dos czares.

Em 1848 lia-se, em páginas trazidas à vida por Dostoievsky: “‘Que seja claro o teu céu, que seja luminoso e sereno o teu doce sorriso e bendita sejas pelo minuto de felicidade e alegria que deste a outro coração solitário e agradecido’.

Meu Deus! Um minuto inteiro de felicidade! Não será isso o bastante para preencher toda a vida de um homem?”.

Há uns meses, fui levar um gatinho malhado, branco, negro, lindo e meigo à Rafeiros SOS, após trazê-lo da empresa onde trabalhara outrora, já que ali fora abandonado. Mais tarde, foi levado para o maravilhoso Café Aqui Há Gato, onde os livros procuram as pessoas e os felinos buscam amor, companhia e um lar carinhoso e adequado, através de uma família que os visite, se encante com eles e os adopte.

Quando o levei à Rafeiros SOS, as simpáticas e gentis raparigas que dão alma à associação pediram-me um nome para aquele felino doce e sem abrigo. Elas são especialistas em gatos e em amor, e rejeitaram as minhas primeiras sugestões. Aquele ser terno e irresistível haveria de ficar a chamar-se, então, Dostoievsky.

Às vezes ainda penso se Dostoievsky poderia ter-se chamado Tolstoi, tal é o amor e devoção que tenho às palavras que um e outro nos deram, para iluminar os nossos dias…

Fico dividido e com medo de ser injusto. Mas neste momento, em que voltei a ler esta frase de Dostoievsky sobre a felicidade, as dúvidas dissiparam-se no meu ser. Não. Dostoievsky nunca poderia chamar-se Tolstoi.

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