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Estou desempregado

Estou desempregado há três meses e seis dias, mas hoje ganhei um pouco mais de consciência desse facto. Às cinco da manhã, os dedos dos pés esticam-se e saem, junto com o resto do corpo, da cama.

Os quatro gatinhos estendem-se também, viram-se para o outro lado ou acompanham-me para a casa de banho. O passo seguinte envolve-os. Têm que ser tratados com Lesperim, Fortekor, Banacep, Rubenal, Cystocure em pó, Specifique Support, Betadine, Cloroexidina e água oxigenada, além de alimentados e hidratados – o que lhes agrada bastante mais!

Sair da cama, fazer isso tudo, tomar o pequeno-almoço e rapar a barba demora cerca de duas horas. Segue-se uma corrida de uma hora e um duche de 30 a 40 minutos.

De manhã, há que fazer e enviar currículos e cartas de apresentação e alimentar as páginas d’O Cronista. Poderá haver também um ou outro dia em que o Cronista se engana no molho das chaves ao ir tomar o café, e fica fechado do lado de fora de casa, sem saber o que fazer…

À hora de almoço, há que destapar um dos deliciosos tupperwares de comida que surgem, em abundância e variedade, de dentro do congelador, descongelá-lo e comê-lo.

Com sorte, não é um dia que envolva passar umas cinco ou seis horas numa fila, para resolver mais alguma burocracia bizarra e misteriosa da Segurança Social, do Instituto do Emprego, da Galp, da EDP…

À tarde, o cafézinho (se possível sem acompanhamento adoçado), e a linha azul do metropolitano, a caminho da associação sem fins lucrativos onde estou até ao fim do dia, a levar para a frente o respectivo departamento de comunicação.

Aí escrevo, para a página do Facebook, as histórias das pessoas carenciadas ou sem abrigo com animais, e das associações de recolha e protecção de animais que a nossa Animalife apoia, lutando assim contra o abandono de animais de estimação.

À noite, uma sopa, a repetição dos tratamentos felinos da manhã, um jornal e ou um livro, (só) um cigarro e cama. Amanhã às cinco há mais, a luta continua e não se detém um minuto. Os poetas, os escritores, os filósofos e os homens da rua sabem que não se pode parar um momento…

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  1. Que bom que ainda arranjas tempo nessa tua agenda agitada para que te possamos ler. Saudades, Vasquens 😉
    Keep Going 🙂
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