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Morrerá sem ter absolutamente nada

Cabelo numa pasta espessa em forma de boina, rosto triste totalmente indiferente à vida. Roupa coberta por sucessivas camadas de pó e sujidade. Corpo e vestuário não vêem água há muito, muito tempo.

O Homem do Semáforo, com a lata das moedas. Passo por ele regularmente, de carro. Está lá sempre. De manhã, à tarde, pela noite dentro.

Alguém uma vez comentou: “Como é possível uma pessoa chegar a um estado de degradação tão grande?”…

Este homem, com a sua existência mínima, aceita uma moeda ou uma sandes, e nenhuma outra ingerência no seu dia-a-dia.

Há seres humanos que as equipas de rua das instituições, até agora, nunca conseguiram ajudar. Homens e mulheres que não se deixaram apoiar. Se alguém se aproxima, seja ou não de uma instituição de solidariedade, acontece uma de duas coisas.

Ou têm a mesma reacção que teriam se uma nuvem tapasse imperceptivelmente o Sol por um segundo… Ou, assustados, intimidados e invadidos, movem-se de repente com um salto, viram costas, fogem, correm, desatam aos gritos.

Um dia, como todos nós, o Homem do Semáforo vai morrer. Sem uma cama. Sem um tecto. Sem um amigo. Sem alguém que lhe faça um funeral e lhe diga um último adeus. Sem nada. Absolutamente nada.

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