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O melhor em tudo

Percebia-se logo que era um miúdo sério, sossegado, trabalhador e discreto. Nessa época, o rapaz trabalhava de dia, estudava pela noite dentro e vinha para as aulas muitas vezes com uma directa em cima.

Compreendi rapidamente que era uma coisa natural ele ser o melhor das turmas por onde passasse, e sem que tivesse que puxar demasiado pela cabeça, porque além de dedicado era inteligente e atento.

Não sei quando nos tornámos amigos, mas faz parte do meu núcleo duro.

Depois de rebentar a escala das boas notas por aqui, foi para Londres estudar Criminologia e Comunicação Social, curso que era inexistente cá. Chegou lá sem dinheiro, sem bolsa, sem casa, sem trabalho e a ter que pagar um balúrdio de propinas. Arranjou tudo isso num dia.

Esmifrou-se e desunhou-se noite e dia, como sempre, a trabalhar e estudar, agora em inglês. A viver, a sobreviver.

Descobriram-lhe um problema congénito e muito grave no coração. Quase morreu, ia dando a vida para concretizar o seu sonho e terminar o curso. Teve que voltar a Portugal por umas temporadas, devido a esta patologia séria e ameaçadora para a sua existência e para o seu funcionamento quotidiano.

Acabou o curso. Para esta formação rara e preciosa, são escassas as oportunidades reais em Portugal. Está a trabalhar num call center tecnológico, a dar assistência técnica, em inglês, em Portugal. A lidar com sotaques, educações (ou a sua falta) e personalidades diferentes de manhã à noite.

O meu heróico e dedicado amigo já cá veio uma série de vezes, largando tudo o que estava a fazer: Configurar-me o computador que me ajudou a escolher (o melhor e o mais barato de todos), a impressora-scanner que existia cá em casa, o wireless, o office, as especificações da minha página, ou apenas para me mostrar que estava a fazer tudo mal e não era preciso reinstalar nada. Quantas pessoas fariam isso?!

O meu amigo, discípulo e mestre da vida fez anos. É trintão pela terceira vez. Que venha aí mais um trio de décadas felizes, tranquilas, com amor, amizade, bem estar físico e espiritual, amigo.

Ah… Ele gosta muito de chapéus!

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