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“Epá, fogo… És mesmo O Patrão”

Vestes negras, braços secos e musculados, manga curta, colete, calças coladas à pele. The Boss. Os seus músicos mais que experimentados são uma máquina de fazer espectáculos extremamente oleada, absolutamente profissional. Nas teclas, nas cordas, no violino, na bateria, no saxofone, todos executantes irrepreensíveis e imparáveis. A primeira hora e meia é de celebração, de alegria, de energia, de rock puro, de batidas extremamente ritmadas que levam os fãs de Bruce Springsteen à pura devoção.

Há uma divisão: À 1h29 da madrugada O Patrão transforma-se e dá lugar a um animal diferente. É com The River e Because The Night que este show perfeito se torna algo diverso, mas quase sem que se dê por essa passagem, porque o artista não pára uma fracção de segundo. One, Two, Three, Four, One, Two, Three, Four, repete… Mas a partir desta hora, vemos um Bruce menos rockalheiro, um cantor de intimidade, ternura e emoção.

Quando fica quase sozinho no palco, com a sua gaita de beiços e a sua guitarra, o que ouvimos e sentimos são cânticos de entrega e de partilha sentimental. A muitas centenas de metros do palco, alguém observa nos ecrãs gigantes as rugas de Springsteen, a sua expressão impossível de reproduzir, e reage: “Épá, fogo, é verdade, és mesmo O Patrão!”.

À 1h52, há uma nova transfiguração. Entramos agora nos hits absolutos, transportados no tempo desde a década de 1980, Born In The Usa e Born To Run. Os muitos milhares que ali estão não conseguem parar de dançar, pular, bater palmas, abanar mãos e braços. Às 2h06, encaminhamo-nos para a épica apoteose. Ao som de Dancing In The Dark. O cantor reedita um dos momentos chave do teledisco original, chamando uma rapariga do público, derretida de emoção, para dançar, no escuro, a música com ele. Lisboa reverencia o artista. Como não reverenciá-lo?

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