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As casas de banho do Rossio

A caminho de um encontro com uma amiga que já não vejo há séculos, páro no café, dentro da estação de metro. Mexo distraidamente no telemóvel, como toda a gente, com o Público à  minha frente. O homem, jovem e com bom aspecto, que serve o café, pede-me para ver o suplemento semanal de cultura, o ípsilon, e folheia-o demoradamente, enquanto saboreio o líquido que me desperta. Que outra vida teria este empregado simpático e encorpado, mais interessado no suplemento cultural que comprei do que eu próprio…

 

Está na altura de pedir para usar uma casa de banho, coisa não muito óbvia ou garantida no Rossio, no centro da grande cidade turística. Começo pelo Jeronymo Coffee & Friends, onde a dita bebida quente e escura custa 70 cêntimos. “Não é possível, a colega está a limpar as instalações”.

 

Logo ali ao lado, o Mac Donald’s, detestado por muitos e apreciado por outros tantos. “Posso utilizar a casa de banho?”, digo, ensaiando o meu ar mais decente e civilizado. “O código da casa de banho vem no talão”. “Hm? Mas eu não tenho talão”. “O código da casa de banho vem no talão”. “E não seria possível dizer-mo?”. “Não, vem no talão”.

 

Junto à porta dos sanitários, um rapazito com ar de quem anda próximo de substâncias ou actividades pouco apreciadas por ali espreita, à socapa, tentando entrar junto com alguém que lá vá. OK, próxima paragem.

 

Tasca Pombalina Tradicional, Bifanas, Petiscos & Companhia  (com esplanada no exterior). “Posso usar a casa de banho, por favor?”. “Pode sim, ali ao fundo”.

 

Cá fora, as flautas dos Andes, dedicadas aos turistas, servem de banda sonora. Junto com a música, os tocadores vendem pulseiras e recordações. Agora, ouve-se uma versão instrumental, muito a propósito, de El Condor Pasa, saudosa canção popularizada por Simon & Garfunkel há 40 anos.

 

Dois vendedores de rua conversam animadamente sobre o preço de qualquer coisa, 1€20, em várias cores… A manhã passou.

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